to passando uns dias tão difíceis...
minha irmã veio de sampa pra passar uns dias aqui e, acho eu, tentar abrir um pouco a cabeça, abrir os olhos, estudar possibilidades... bem isso é o que acho eu nessa minha incorrigível mania de querer consertar a vida das pessoas. e acaba que sim, sou eu quem está tendo uns dias tão difíceis...

agora mesmo entrei no meu orkut. tinha, sei lá, uns tres meses que não entrava. depois que me acostumei com o tal do facebook parece que o outro deixou de ser novidade e ficou largadão, esquecido mesmo. e, acontece que lá tinha um monte de fotinhos do Kyrá logo depois que nasceu. uma com nós dois.

é... aqueles dias também foram difíceis, hehehe mas, foram dias lindos (como os de hoje também são). é tão inexplicável explicar os sentimentos que passam em mim agora que olho aquelas fotinhos... quando olho seus olhinhos de nenê... é uma mistura de amor e medo, certeza e dúvida, vontade de ir e vontade de parar o tempo só pra continuar vivendo esses momentos de tanto prazer e amor.

aquele bebezinho fofo está se tornando meu menininho e daqui a pouco meu homenzinho e daqui a mais um pouco... pous... a vida levou e lá está ele se virando sozinho... ainda bem que amor é isso e a gente vai aprendendo com o tempo, com os acontecimentos, bem devagarinho (porque, tudo, sim, é um processo)...

agora eu estou vivendo aqui esse momento difícil. um momento de dúvida. eu, pessoa sensível, "altamente enganável" tenho que ficar ligada e planejar um plano pra um futuro muito próximo. como é que vou fazer?
é um momento difícel mas, não insuperável e como sempre, como tantas coisas contadas e não contadas nesse blog, eu vou superar.

i'm sure of it. yes i am.
Agora há pouco, assistindo TV Futura, vi um programete onde o Paulo José declamava alguns poemas. Sua forma de falar me atraiu pra um texto, fiquei presa nele. Falava sobre o amor e como o amor ia consumindo ("comendo") toda a existência de um suposto indivíduo, ali, sorrateiramente interpretado por ele.

Me prendeu o texto e a visualizaçao que eu fazia de tudo aquilo. Por mais que seja belo e lindo e gostoso, a verdade é que o amor consome a gente sim, nos vai levando e engolindo aos poucos conforme passa a vida....

Eu com o laptop na mão, rapidamente me joguei no google e logo encontrei o texto lá. Escrito assim, parece muito maior do que o que via na TV. Sim, a TV enfia conteúdo de maneira muito mais rápida na cabeça da gente. E o jeito do Paulo José foi tão envolvente e convincente que não me deixou ver o tempo passar.

Mas, aqui está o texto.

João Cabral de Melo Neto
Os Três Mal-Amados

Joaquim:

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.


As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia "Os Três Mal-Amados", constante do livro "João Cabral de Melo Neto - Obras Completas", Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.
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